19.1.08

Aparições de Nossa Senhora em Fátima
História e Mensagem









Texto extraído do Guia do Peregrino de Fátima, edição do Santuário, 1990, no qual se apresenta um apanhado das descrições de Lúcia das aparições e dos principais aspectos do que habitualmente se designa «Mensagem de Fátima»

Os fatos e a Mensagem de Fátima formam uma unidade perfeita, constituída por três momentos: as aparições do Anjo em 1916, as Aparições de Nossa Senhora, em 1917, e as aparições complementares de Pontevedra (1925-26) e Tuy (1929).



1. AS APARIÇÕES DO ANJO

O anjo de Fátima, como os anjos bíblicos, preparou os caminhos do Senhor. A primeira aparição deu-se durante a primavera de 1916, no lugar chamado "Cabeço". Lúcia, Francisco e Jacinta viram
"uma luz mais branca que a neve, com a forma de jovem transparente, mais brilhante que um cristal, atravessado pelos raios do sol".


- Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

Ajoelhando-se, mandou repetir às crianças três vezes:
- Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Depois, ergueu-se e disse:
- Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.

A segunda aparição teve lugar durante o Verão, junto do poço do quintal da casa de Lúcia.

- Que fazeis? Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
- Como nos havemos de sacrificar?
- De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.


A terceira aparição deu-se no Outono, de novo na Loca do Cabeço. As crianças começaram a rezar "Meu Deus, eu creio, ..." quando deram conta que sobre elas brilhava uma luz desconhecida. Viram, então, o Anjo, que segurava na mão esquerda um cálice, sobre o qual estava suspensa uma hóstia. Desta caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue. O Anjo ajoelhou diante delas e convidou-as a repetir por três vezes a seguinte oração:

- "Santíssima Trindade, pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente, e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".

Em seguida, o Anjo ergueu-se, tomou de novo o cálice e a hóstia, que tinham ficado suspensos no ar e deu a hóstia à Lúcia e o que continha o cálice ao Francisco e à Jacinta, dizendo ao mesmo tempo:

- Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o Vosso Deus.




2. AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA

O dia 13 de Maio de 1917 era Domingo. Depois de terem ido à Missa à paróquia, as crianças tinham levado as ovelhas a pastar para um lugar a dois quilômetros de Aljustrel, chamado "Cova da Iria". O céu estava azul e claro, mas, a dado instante, pareceu-lhes ver um relâmpago. Receando tempestade, juntaram o gado para o conduzir para casa. De repente, viram outro clarão... e ali, a poucos passos deles, sobre uma pequena azinheira, apareceu a figura de
"uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente".

- Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.

- Donde é Vossemecê?

- Sou do Céu.

- E que é que Vossemecê me quer?

- Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero.

- E eu também vou para o Céu?

- Sim, vais.

- E a Jacinta?

- Também.

- E o Francisco?

- Também, mas tem que rezar muitos terços.

Lúcia fez ainda mais algumas perguntas. Por fim, Nossa Senhora perguntou-lhes:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?

- Sim, queremos.

- Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Ao dizer estas últimas palavras, Nossa Senhora abriu as mãos, num gesto acolhedor de Mãe, oferecendo o seu Coração. Um misterioso reflexo de luz desceu até às crianças penetrando-lhes a alma e fazendo-as verem-se envolvidas em Deus, "mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos", - diz Lúcia. Finalmente, Nossa Senhora acrescentou:

- Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.

No dia 13 de Junho, os pastorinhos, acompanhados de algumas pessoas, estavam a rezar o terço, quando, de novo, viram o misterioso clarão. Lúcia iniciou o diálogo:

- Vossemecê que me quer?

- Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.

Lúcia pediu a cura de um doente. Nossa Senhora respondeu:

- Se se converter, curar-se-á durante o ano.

- Queria pedir-lhe para nos levar para o Céu.

- Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas por Deus, como flores postas por mim a adornar o Seu trono.

- Fico cá sozinha?

- Não, filha. E tu sofre muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

No dia 13 de Julho foi já uma multidão a acompanhar os pastorinhos. Viu-se o costumado clarão. Lúcia começou o diálogo:

- Vossemecê que me quer?

- Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.

Lúcia apresentou a Nossa Senhora diversos pedidos e continuou:

- Queria pedir-lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que vossemecê nos aparece.

- Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão de ver e acreditar. Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.

Neste momento o reflexo misterioso penetrou a terra. Os pastorinhos, assombrados, contemplaram a horrível visão do inferno. Assustados, e como que a pedir socorro, levantamos, - diz Lúcia - a vista para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza:

- Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XII, começará outra pior. Quando virdes um noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé. Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco podeis dizê-lo.

Depois destas importantes declarações, Nossa Senhora continuou:

- Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.

No dia 13 de Agosto não houve aparição de Nossa Senhora porque o Administrador de Vila Nova de Ourém prendeu os pequenos e levou-os para a Vila. Ali os reteve injustamente durante três dias, submetendo-os a múltiplos interrogatórios e ameaçando-os com violentos castigos. Por fim, não tendo conseguido obter deles nem a retratação da veracidade das aparições, nem a revelação do segredo, entregou-os aos pais.

A multidão esperou em vão, nesse dia, pelos pastorinhos. Nosso Senhor, porém, realizou alguns prodígios extraordinários, que a todos consolaram e convenceram mais da veracidade das aparições.
No Domingo seguinte, 19 de Agosto, Nossa Senhora tornou a aparecer num lugar chamado "Valinhos".
- Que é que Vossemecê me quer?


- Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias.

A Lúcia apresentou, depois, alguns pedidos que Nossa Senhora atendeu. E, tomando um aspecto mais triste, terminou dizendo:

- Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.

No dia 13 de Setembro, a multidão ultrapassava já as 25 mil pessoas. As crianças chegaram com dificuldade ao local das aparições. Pouco depois, a Santíssima Virgem manifestou-se e disse:

- Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus para abençoarem o mundo.

Como das outras vezes, Lúcia transmitiu a Nossa Senhora vários pedidos. Por fim, Nossa Senhora, refreando o espírito mortificado dos pastorinhos, acrescentou:

- Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.

No dia 13 de Outubro, não obstante a chuva torrencial que encharcara e enlameara os caminhos, dificultando a subida da serra, a multidão ultrapassou as 50.000 pessoas.

Era meio-dia solar, quando começou o diálogo com a Senhora aparecida:

- Que é que Vossemecê me quer?

- Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honram, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.

Depois, tomando um aspecto mais triste, disse:

- Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido!

Quando Lúcia viu que Nossa Senhora se elevava, e que o seu brilho continuava a projetar-se no sol, num movimento instintivo apontou para o sol, e, com um grito espontâneo, recomendou:

- Olhem para o sol!

Foi então que se realizou o milagre prometido por Nossa Senhora três meses antes. O Céu que, até então, tinha estado coberto de nuvens negras, rasgou-se, deixando ver o sol. Este tomou a forma e a cor de um disco prateado que não feria a vista. Ao mesmo tempo, começou a girar vertiginosamente sobre si mesmo, como uma roda de fogo de artifício. Por três vezes, desceu até à altura do horizonte, como que ameaçando cair sobre a terra. Brilharam no sol todas as cores do arco-íris que se refletiram na paisagem, na terra, nas árvores e nas pessoas. O espetáculo durou cerca de um quarto de hora. A multidão assistia ao acontecimento atemorizada: chorava, gritava, invocava a misericórdia de Deus e da Santíssima Virgem, e pedia perdão para as suas culpas.

Lúcia, mergulhada no êxtase, não tinha contemplado o fenômeno solar, mas, imediatamente depois, pôde contemplar uma série de visões multiformes que ela descreve com sobriedade: "Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S.José com o Menino, e Nossa Senhora vestida de branco com um manto azul. S.José com o Menino pareciam abençoar o mundo, com uns gestos que faziam com a mão, em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que S.José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ainda ver Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo".




A mensagem de Fátima

As principais características da mensagem de Fátima para o mundo e para a Igreja, poderiam escrever-se assim:


1ª Perfeita ortodoxia.

Reproduz fielmente, embora de maneira popular e catequética, a doutrina da Igreja Católica, contida na Sagrada Escritura e na Tradição. Apresenta-se-nos com toda a frescura evangélica e com toda a singeleza da primeira catequese cristã. Nas suas imagens, nos seus gestos, nas suas palavras ressoam todas as páginas do Evangelho, desde as fortes chamadas de João Baptista à penitência, desde os acentos escatológicos de Cristo sobre a ruína de Jerusalém, até à catequese de Jesus, nas suas parábolas, na sua vida de aldeia, nas suas preocupações quotidianas, nos seus gestos emotivos, nas próprias orações que Ele ensinou.


2ª Abrange todo o dogma católico.

A Mensagem de Fátima poderia definir-se como uma suma ou compêndio da doutrina católica. Nada lhe falta quanto ao essencial: a Santíssima Trindade, a habitação de Deus nas almas pela graça, o mistério da Redenção de Cristo, o mistério de iniqüidade do pecado, o sentido de solidariedade dos cristãos dentro do Corpo Místico de Cristo-Cabeça na reparação, a intercessão dos anjos e santos, o mistério inefável da Eucaristia, o lugar único da Virgem Intercessora, mostrando a maternal solicitude do seu Coração Doloroso e Imaculado, os grandes dogmas do Céu e do inferno. Fátima é na verdade um "evangelho abreviado". Jamais houve manifestação sobrenatural de Nossa Senhora de conteúdo tão rico como a de Fátima, nem aparição alguma reconhecida nos transmitiu mensagem tão clara, tão materna, tão profunda como esta" (Cardeal Larroana).


3ª Atualidade viva.

A mensagem de Fátima revelada num tempo, cheio de contradições, de lutas, de sofrimentos e penas, é sempre atual e eterna, como o Evangelho.


Assim o declarou João Paulo II, em 13 de Maio de 1982:

"...o convite evangélico à penitência e à conversão, expresso com as palavras da Mãe, continua ainda atual. Mais atual mesmo do que há sessenta e cinco anos atrás. E até mais urgente".


4ª Grande valor santificador.

A prática da mensagem de Fátima não é apenas apta para santificar a vida cristã em geral, mas também oferece, no exemplo dos pastorinhos e dos peregrinos, uma doutrina espiritual, capaz de elevar as almas à mais alta vida do espírito. Enumeremos, brevemente, os principais pontos da mensagem:


Penitência.
A penitência de Fátima, como aliás toda a penitência cristã, não consiste apenas em atos de mortificação corporal. É, antes de mais, afastamento do pecado, cumprimento da lei de Deus e da Igreja, cumprimento do dever do próprio estado. É contrição interior. As últimas palavras de Nossa senhora, foram: "Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está ofendido". Lúcia mostra-se, todavia, impressionada pela tristeza da Virgem, ao dizer estas palavras, quando escreve: "Desta aparição, as palavras que mais se me gravaram no coração, foi o pedido de Nossa Santíssima Mãe do Céu: Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já esta muito ofendido. Que amorosa queixa e que terno pedido! Quem me dera que ele ecoasse pelo mundo fora e que todos os filhos da Mãe do Céu ouvissem o som da Sua voz!"


Oração.
Em Fátima, a Virgem volta a ser grande Mestra da oração. Por isso, Fátima se converteu numa das maiores escolas de oração. O Anjo detém-se demoradamente com as crianças rezando com elas prostrado por terra e ensinando-lhes algumas orações preciosas. Nossa Senhora confirmou e insistiu neste espírito de fervor e oração que ali se respira.



O Santo Rosário.
A oração predileta de Fátima é, sem dúvida, o Santo Rosário. Todavia, será preciso insistir que esta prática não é uma recitação mecânica de preces, mas uma recitação vocal que deve ser acompanhada pela meditação dos mistérios da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A devoção dos primeiros sábados inclui esta meditação.



A Vida Eclesial.
Eis um dos elementos mais característicos da mensagem de Fátima. A "vida eclesial", segundo a doutrina do Concilio Vaticano II, é a comunhão de caridade, a união sacramental e a união hierárquica. O primeiro elemento manifesta-se em Fátima sobretudo pela idéia da reparação para a conversão dos pecadores. O segundo elemento, a prática sacramental, está vivo nos fatos de Fátima e no exercício constante das peregrinações. Finalmente o terceiro elemento, a união hierárquica, manifesta-se, não só enquanto Fátima surge como um carisma privilegiado de toda a Igreja e para toda a Igreja, aprovado pela hierarquia como tal, mas, ainda mais no fomento do amor ao Santo Padre e da união de coração e ação dos bispos de todo o mundo com ele. Deste modo, Lúcia contempla os futuros sofrimentos do Papa... Jacinta vê-o numa visão apocalíptica, perseguido e injuriado. Os Pastorinhos convertem a oração reparadora ao Coração de Maria numa oração pelo Santo Padre.



Escatologia de Fátima.
Fátima traz uma mensagem escatológica ao mundo e à Igreja em diversas dimensões lembrando com insistência aos homens o sentido último da vida. O céu e o inferno, por exemplo, são elementos da justiça e da misericórdia de Deus.




"Rússia" e Fátima.
É necessário assinalar bem a relação, que a mensagem de Fátima estabelece entre esta palavra "Rússia" e Fátima: O fato histórico, bem provado dessa relação, é indubitável. Interessa, contudo, não adulterar essa relação com falsas interpretações. A palavra "Rússia" não significa, na mensagem, a nação russa geograficamente tomada. Fátima, como continuação da história da salvação e mensagem exclusivamente religiosa e sobrenatural, refere-se à "Rússia", unicamente sob o aspecto religioso-sobrenatural. Ora, este aspecto é bem conhecido: trata-se do comunismo materialista e ateu, como doutrina e prática do Partido Comunista que, desde Outubro de 1917, domina nessa nação, outrora profundamente cristã. Em Fátima não se descobre nenhuma aversão, mesmo contra os homens que erroneamente militam no comunismo; somente se deseja e reza pela sua conversão.



O Coração Imaculado de Maria.
É o ponto mariano mais especifico, mais essencial, e mais característico da mensagem. A devoção ao Coração de Maria era já bem conhecida na Igreja sob todos os pontos de vista: tradição, escritura, história e teologia. Mas Fátima trouxe manifestações mesmo simbólicas, completamente originais e próprias, que penetram e informam todos os outros elementos da mensagem. Assim, não se trata apenas de um convite constante à oração, mas também, concretamente, de uma oração de intercessão que passa necessariamente pelo Coração da Virgem. Não se trata de uma "reparação em geral"; mas sim, concretamente, duma reparação especial pedida pelas ofensas cometidas contra o Coração Imaculado de Maria.


A devoção do Rosário também não é simplesmente uma nova recomendação desta devoção... mas sim, mais do que isso, uma interiorização que deve ser conseguida na prática dos primeiros sábados. Por isso, a "intenção" desta prática não é só satisfazer cinco vezes seguidas as condições exigidas... mas levar à prática continuada da reparação ao Coração de Maria. A escatologia de Fátima está internamente iluminada por essa luz que nasce do peito de Nossa Senhora: a visão do inferno... a Rússia e o mistério da iniqüidade... o afastamento das terríveis penas cominadas. E, finalmente, até o triunfo escatológico de Fátima é oferecido como um triunfo do Imaculado Coração de Maria. Fátima é hoje o que é, por ter revelado ao mundo o Coração da Virgem e a promessa do seu "triunfo", cuja realização parece anunciar-se no horizonte.




Fátima e a Autoridade Eclesiástica

Os fatos e, sobretudo, a Mensagem de Fátima, obtiveram da parte da hierarquia da Igreja, garantias que fatos semelhantes até então nunca tinham obtido.

D. José Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria, no dia 13 de Outubro de 1930, na Carta Magna de Fátima, aprovava assim as aparições:


"Havemos por bem:

1º declarar como dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, Freguesia de Fátima, desta Diocese, nos dias 13, de Maio a Outubro de 1917;

2º permitir oficialmente o culto a Nossa Senhora de Fátima."

A esta aprovação seguiram-se outras de todo o episcopado português, principalmente do Cardeal Patriarca de Lisboa, que afirmou que Fátima se tinha imposto à Igreja. A visita de tantos cardeais, os documentos pontifícios, a consagração do mundo ao Coração de Maria por Pio XII, a concessão de indulgências, a Missa votiva, a coroação da imagem de Nossa Senhora como Rainha do mundo, o encerramento do Ano Santo para o estrangeiro, a concessão da Rosa de Ouro, finalmente, as peregrinações de Paulo VI, em 13 de Maio de 1967, e de João Paulo II em 1982, são fatos mais que suficientes para atestar o reconhecimento solene e público das aparições de Fátima por parte da Igreja. E o futuro, que deve trazer-nos ainda novidades, não deixará de nos esclarecer também sobre o significado da visita da Imagem da Capelinha a Roma, 24 e 25 de Março do Ano Santo de 1984, para, diante dela, João Paulo II renovar, com máxima solenidade e em união com todos os bispos do mundo
, a consagração ao Imaculado Coração de Maria.







O Milagre do sol
O «milagre do sol» veio dar crédito às aparições de Fátima. Foi testemunhado por milhares de pessoas que se encontravam, no dia 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria e por um jornalista de "O Século", Avelino de Almeida.

Transcrevemos o seu texto ORIGINAL (ALGUNS TERMOS ESTÃO EM DESUSO EM NOSSA LÍNGUA).


(1917-10-15, Lisboa, Avelino de Almeida enviado pelo jornal {O Século} à Cova da Iria, descreve o que presenciou no dia 13 de Outubro de 1917. Data de redação: 13 de Outubro de 1917. {Publ.:} {O Século}, Lisboa (edição da manhã) 37 (12.876) 15 Out. 1917, p. 1, cols. 6-7; p. 2, col. 1.)

COISAS ESPANTOSAS! COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA
As aparições da Virgem - Em que consistiu o sinal do céu - Muitos milhares de pessoas afirmam ter-se produzido um milagre - A guerra e a paz

{Lucia, de 10 anos; Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, que na charneca de Fátima, conselho de Vila Nova de Ourem, dizem ter falado com a Virgem Maria}
(DO NOSSO ENVIADO ESPECIAL)
OUREM, 13 de outubro -
Ao saltar, após demorada viagem, pelas dezesseis horas de ontem, na estação de Chão de Maçãs, onde se apearam também pessoas religiosas vindas de longes terras para assistir ao «milagre», perguntei, de chofre, a um rapazote do «char- á-bancs» da carreira se já tinha visto a Senhora. Com seu sorriso sardônico e o olhar enviezado, não hesitou em responder-me:

- Eu cá só lá vi pedras, carros, automóveis, cavalgaduras e gente!

Por um fácil equivoco, o trem que nos devia conduzir, a Judah Ruah e a mim, até á vila, não apareceu e decidimo-nos a caminhar corajosamente cerca de duas léguas, por não haver lugar para nós na diligencia e estarem, desde muito, afreguezadas as carriotas que aguardavam passageiros. Pelo caminho, topamos os primeiros ranchos que seguiam em direção ao local santo, distante mais de vinte kilômetros bem medidos. Homens e mulheres vão quase todos descalços - elas com saquitéis á cabeça, sobrepujados pelas sapatorras; eles abordoando-se a grossos varapaus e cautelosamente munidos também de guarda-chuva. Dar-se-iam, em geral, alheados do que se passa á sua volta, n'um desinteresse grande da paisagem e dos outros viandantes, como que imersos em sonho, rezando n'uma triste melopéia o terço. Uma mulher rompe com a primeira parte da ave-maria, a saudação; os companheiros, em coro, continuam com a segunda parte, a suplica. N'um passo certo e cadenciado, pisam a estrada poeirenta, entre pinhaes e olivedos, para chegarem antes que se cerre a noite ao sitio da aparição, onde, sob o relento e a luz fria das estrelas, projetam dormir, guardando os primeiros lugares junto da azinheira bendita - para no dia de hoje verem melhor.

À entrada da vila, mulheres do povo a quem o meio já infectou com o vírus do ceticismo, comentam, em tom de troça, o caso do dia:

- Então vais ver amanhã a santa?

- Eu, não. Se ela ainda cá viesse!

E riem-se com gosto, enquanto os devotos prosseguem indiferentes a tudo o que não seja o objetivo da sua romagem. Em Ourem só por uma amabilidade extrema se encontra aposentadoria. Durante a noite, reúnem-se na praça da vila os mais variados veículos conduzindo crentes e curiosos sem que faltem velhas damas vestidas de escuro, vergadas já ao peso dos anos, mas faiscando-lhes nos olhos o lume ardente da fé que as animou ao ato corajoso de abandonar por um dia o inseparável cantinho da sua casa. Ao romper d'alva, novos ranchos surgem intrépidos e atravessam, sem pararem um instante, o povoado, cujo silencio quebram com a harmonia dos cânticos que vozes femininas, muito afinadas, entoam n'um violento contraste com a rudeza dos tipos...

O sol nasce, mas o cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens negras acastelam-se precisamente sobre as bandas de Fátima. Nada, todavia, detém os que por todos os caminhos e servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. Os automóveis luxuosos deslizam vertiginosamente, tocando as buzinas; os carros de bois arrastam-se com vagar a um lado da estrada; as galeras, as vitórias, os caleches fechados, as carroças nas quais se improvisaram assentos vão ajoujados a mais não poderem. Quase todos levam com os farnéis, mais ou menos modestos, para as bocas cristãs a ração de folhe-lo para os irracionais que o "poverelo" de Assis chamava nossos irmãos e que cumprem valorosamente a sua tarefa... Tilinta uma ou outra guiseira, vê-se uma carrocinha adornada de buxo; no entanto, o ar festivo é discreto, as maneiras são compostas e a ordem absoluta... Burrinhos choutam á margem da estrada e os ciclistas, numerosissimos, fazem prodígios para não esbarrar de encontro aos carros.

Pelas dez horas, o céu tolda-se totalmente e não tardou que entrasse a chover a bom chover. As cordas de água, batidas por um vento agreste, fustigam os rostos, encharcando o macadame e repassando até os ossos os caminhantes desprovidos de chapéus e de quaisquer outros resguardos. Mas ninguém se impacienta ou desiste de prosseguir e, se alguns se abrigam sob a copa das arvores, junto dos muros das quintas ou nas distanciadas casas que se debruçam ao longo do caminho, outros continuam a marcha com uma impressionante resistência, notando-se algumas senhoras cujos vestidos colados aos corpos, por efeito do ímpeto e da pertinácia da chuva, lhes desenham as formas como se tivessem saído do banho!

O ponto da charneca de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos do lugarejo de Aljustrel, é dominado n'uma enorme extensão pela estrada que corre para Leiria, e ao longo da qual se postaram os veículos que lá conduziram os peregrinos e os mirones. Mais de cem automóveis alguém contou e mais de cem bicicletas, e seria impossível contar os diversos carros que atravancaram a estrada, um d'eles o auto-ônibus de Torres Novas, dentro do qual se irmanavam pessoas de todas as condições sociais.

Mas o grosso dos romeiros, milhares de criaturas que foram de muitas léguas ao redor e a que se juntaram fieis idos de varias províncias, alemtejanos e algarvios, minhotos e beirões, congregam-se em torno da pequenina azinheira que, no dizer dos pastorinhos, a visão escolhera para seu pedestal e que podia considerar-se como que o centro de um amplo circulo em cujo rebordo outros espectadores e outros devotos se acomodam. Visto da estrada, o conjunto é simplesmente fantástico. Os prudentes camponios, abarracados sob os chapéus enormes, acompanham, muitos d'eles, o desbaste dos parcos farneis com o conduto espiritual dos hinos sacros e das dezenas do rosário. Não ha quem tema enterrar os pés na argila empapada, para ter a dita de ver de perto a azinheira sobre a qual ergueram um tosco pórtico em que bamboleiam duas lanternas... Alternam-se os grupos que cantam os louvores da Virgem, e uma lebre, espavorida, que galga matagal em fora, apenas desvia as atenções de meia dúzia de zagaletes que a alcançam e prostram á cacetada...

E os pastorinhos? Lucia, de 10 anos, a vidente, e os seus pequenos companheiros, Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, ainda não chegaram. A sua presença assinala-se talvez meia hora antes da indicada como sendo a da aparição. Conduzem as rapariguinhas, coroadas de capelas de flores, ao sitio em que se levanta o pórtico. A chuva cai incessantemente mas ninguém desespera. Carros com retardatários chegam á estrada. Grupos de fieis ajoelham na lama e a Lucia pede-lhes, ordena que fechem os chapéus. Transmite-se a ordem, que é obedecida de pronto, sem a mínima relutância. Ha gente, muita gente, como que em êxtase; gente comovida, em cujos lábios secos a prece paralisou; gente pasmada, com as mãos postas e os olhos borbulhantes; gente que parece sentir, tocar o sobrenatural... A criança afirma que a Senhora lhe falou mais uma vez, e o céu, ainda caliginoso, começa, de súbito, a clarear no alto; a chuva pára e presente-se que o sol vai inundar de luz a paisagem que a manhã invernosa tornou ainda mais triste...

A hora antiga é a que regula para esta multidão, que cálculos desapaixonados de pessoas cultas e de todo o ponto alheias ás influencias místicas computam em trinta ou quarenta mil criaturas... A manifestação miraculosa, o sinal visível anunciado está prestes a produzir-se - asseguram muitos romeiros... E assiste-se então a um espetáculo único e inacreditável para quem não foi testemunha d'ele. Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter á terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zênite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar:

- Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!

Aos olhos deslumbrados d'aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fora de todas as leis cósmicas - o sol «bailou», segundo a típica expressão dos camponeses... Empoleirado no estribo do auto-ônibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura e cuja fisionomia, ao mesmo tempo doce e enérgica, lembram as de Paul Déroulede, recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, de principio a fim, o Credo. Pergunte quem é e dizem-me ser o sr. João Maria Amado de Melo Ramalho da Cunha Vasconcelos. Vejo-o depois dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapéu na cabeça, suplicando-lhes, veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se n'outros pontos e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto e quase n'uma sufocação:

- Que lastima! Ainda ha homens que se não descobrem diante de tão estupendo milagre!

E, a seguir, perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior numero confessa que viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto o rosto risonho da própria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo de artifício, que ele baixou quase a ponto de queimar a terra com os seus raios... Ha quem diga que o viu mudar sucessivamente de cor...

São perto de quinze horas.

O céu está varrido de nuvens e o sol segue o seu curso com o esplendor habitual que ninguém se atreve a encarar de frente. E os pastorinhos? Lucia, a que fala com a Virgem, anuncia, com ademanes teatrais, ao colo de um homem, que a transporta de grupo em grupo, que a guerra terminara e que os nossos soldados iam regressar... Semelhante nova, todavia, não aumenta o jubilo de quem a escuta. O sinal celeste foi tudo. Ha uma intensa curiosidade em ver as duas rapariguinhas com suas grinaldas de rosas, ha quem procure oscular as mãos das «santinhas», uma das quais, a Jacinta, está mais para desmaiar do que para danças, mas aquilo por que todos ansiavam - o sinal do céu - bastou a satisfaze-los, a radica-los na sua fé de carvoeiro. Vendedores ambulantes oferecem os retratos das crianças em bilhetes pastais e outros bilhetes que representam um soldado do Corpo Expedicionário Português «pensando no auxilio da sua protetora para salvação da Pátria» e até uma imagem da Virgem como sendo a figura da visão... Bom negocio foi esse e decerto mais centavos entraram na algibeira dos vendedores e no tronco das esmolas para os pastorinhos do que nas mãos estendidas e abertas dos leprosos e dos cegos que, acotovelando-se com os romeiros, atiravam aos ares seus gritos lancinantes...

O dispersar faz-se rapidamente, sem dificuldades, sem sombra de desordem, sem que fosse mister que o regulasse qualquer patrulha da guarda. Os peregrinos que mais depressa se retiram, correndo estrada fora, são os que primeiro chegaram, a pé e descalços com os sapatos á cabeça ou dependurados nos varapaus. Vão, com a alma em lausperene, levar a boa nova aos lugarejos que não se despovoaram de todo. E os padres? Alguns compareceram no local, sorridentes, enfileirando mais com os espectadores curiosos do que com os romeiros ávidos de favores celestiais. Talvez um ou outro não lograsse dissimular a satisfação que no semblante dos triunfadores tantas vezes se traduz... Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados - ao que me asseguraram sujeitos fidedignos - os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram á já agora celebrada charneca. Avelino de Almeida



Íntegra dos Segredos de Fátima

Em 1917, Nossa Senhora apareceu em Fátima - Portugal para três pastorinhos - Lúcia, Francisco e Jacinta. A Virgem fez revelações que mais tarde ficaram conhecidas como o "Segredo de Fátima". A 1ª e 2ª parte do Segredo foram escritas por Lúcia no ano de 1941 e conhecidas logo a seguir. A 3ª parte do Segredo foi escrita em 1944 numa correspondência privada para ser aberta somente pelo Papa. No dia 26 de Junho de 2000, a 3ª parte do Segredo foi finalmente publicada na íntegra pelo Vaticano.

1ª e 2ª parte do Segredo de Fátima, na íntegra.
Transcrição na íntegra das palavras de Lúcia de Jesus que contêm a revelação da primeira e segunda partes do segredo de Fátima:
"(...) o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi pois a vista do inferno! Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras , ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e acrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros.Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu; que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor. Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores, para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo dos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz".

3ª parte do Segredo de Fátima, na íntegra.
O conteúdo da terceira parte do Segredo de Fátima, revelado em 13 de Julho de 1917, em Fátima, em que a Ir. Lúcia dos Santos, a única das três videntes ainda viva, redigiu em 03 de Janeiro de 1944, é o seguinte:
"Escrevo, diz Ir. Lúcia, em ato de obediência a Vós meu Deus, que me mandais por meio de Sua Excelência Reverendíssima o Sr. Bispo de Leuria, e da Vossa e minha Santíssima Mãe. Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas, apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: - Penitência, penitência, penitência. E vimos numa luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como se vêem as pessoas no espelho, quando lhe diante passa um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vimos vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de tronco tosco, como se fora de sobreiro como a casca. O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, meia em ruínas e meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena. Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho. Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe disparavam vários tiros e setas e assim mesmo foram morrendo uns após os outros, os bispos, os sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares. Cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da cruz, estavam dois anjos. Cada um com um regador de cristal nas mãos recolhendo neles o sangue dos mártires e com eles irrigando as almas que se aproximavam de Deus. Este portanto, o conteúdo escrito por Ir. Lúcia, no ano de 1944, do Terceiro Segredo de Fátima].


Comentário
Nossa Senhora em Fátima fez um diagnostico, mostrou os riscos e prescreveu os remédios. Ela ofereceu a humanidade meios para livrar-se de males ameaçadores representados nas visões dadas às 3 crianças. Na medida em que usamos o remédio o mal é vencido. Almas são salvas de cair no inferno e guerras destruidoras que atingem a Igreja são afastadas (adiadas). O mundo viveu por vários anos a chamada guerra fria em que o conflito com a Russia e todo o bloco soviético podia explodir a qualquer momento numa guerra nuclear. O remédio oferecido em Fátima, uma especial consagração ao Imaculado Coração, ficou por longo tempo sem o uso devido. Foi somente depois de ser salvo por milagre de um atentado em 13 de maio de 1981, aniversário das aparições, que João Paulo II se ocupou com as revelações de Fátima. Quando em 1984 nosso querido Papa, fez a consagração solene nos moldes prescritos por Nossa Senhora o remédio celestial começou a agir. Bastou cinco anos para o mundo assistir pasmo o desmantelamento do bloco soviético. Parte do tratamento prescrito cabia ao Papa e aos Bispos mas outra parte cabe a cada um de nós. Como temos feito a comunhão reparadora? Qual a visão pior: a da primeira parte ou a da última parte do segredo? A queda do muro de Berlim é um testemunho de como os remédios oferecidos pela Mãe são eficazes. Diante de tudo só posso pedir misericórdia pois tenho sido relaxado no uso destes remédios para o bem de tantos. Penitencia! Penitencia! Penitencia! dizia o anjo em 1917, que diria ele agora?
Sergio Vellozo - Comunidade Canção Nova

Aparicões de Nossa Senhora em Akita

A Virgem que chorava sangue






Em 28 de junho de 1973 uma ferida em forma de cruz apareceu na palma da mão esquerda da Irmã Agnes. A ferida sangrou abundantemente e causou-lhe muita dor. Em 6 de julho a Irmã Agnes ouviu uma voz vinda da estátua da Bem-aventurada Virgem Maria na capela onde ela estava rezando. A estátua foi esculpida de um único bloco de madeira de uma árvore Katsura e tem um metro de altura. Nossa Senhora falou com a Irmã Agnes e lhe deu uma mensagem.


No mesmo dia, algumas das irmãs notaram gotas de sangue fluindo da mão direita da estátua. Em quatro ocasiões este ato de escorrimento de sangue se repetiu. A ferida na mão da estátua permaneceu até 29 de setembro, quando desapareceu. Em 29 de setembro, o dia em que a ferida na estátua desapareceu, as irmãs perceberam que a estátua agora tinha começado a 'suar', especialmente na testa e pescoço.


Em 3 de agosto, a Irmã Agnes recebeu uma segunda mensagem. Em 13 de outubro, ela recebeu a terceira e última mensagem.


Dois anos depois, em 4 de janeiro de 1975, a estátua da Bem-aventurada Virgem começou a chorar. Ela continuou a chorar, com intervalos, pelos próximos 6 anos e oito meses. Ela chorou 101 vezes.

A seguir, as três mensagens de Nossa Senhora de Akita à Irmã Agnes:


6 de julho de 1973:
'Minha filha, minha noviça, você tem me obedecido bem, abandonando tudo para me seguir. A doença em seus ouvidos é dolorosa? Sua surdez será curada, tenha certeza. A ferida em sua mão causa-lhe sofrimento? Reze em reparação pelos pecados dos homens. Cada pessoa nesta comunidade é minha filha insubstituível. Você reza direito a prece das Servas da Eucaristia? Então, vamos rezá-la juntas.'


'Sacratíssimo Coração de Jesus, verdadeiramente presente na Sagrada Eucaristia, eu consagro meu corpo e minha alma para ser inteiramente um com Vosso Coração, sendo sacrificado a cada instante em todos os altares do mundo e dando louvor ao Pai implorando pela vinda do Seu Reino.


Por favor receba este humilde oferecimento de mim mesma. Use-me como Vós desejais para a glória do Pai e a salvação das almas.


Santíssima Mãe de Deus, nunca me deixe ficar separada de Vosso Divino Filho. Por favor defendei-me e protegei-me como Vossa Especial Filha. Amém.'



Quando a prece acabou, a Voz Celeste disse:


'Reze muito pelo Papa, Bispos, e Sacerdotes. Desde o seu Batismo você tem sempre rezado fielmente por eles. Continue a rezar muito... muito. Diga ao seu superior todo que se passou hoje e obedeça-o em tudo que ele lhe dirá. Ele pediu que você ore com fervor.'


3 de agosto de 1973:
'Minha filha, minha noviça, você ama o Senhor? Se você ama o Senhor, ouça o que eu tenho a lhe dizer.


É muito importante... Você irá comunicar isso ao seu superior.
Muitos homens neste mundo afligem o Senhor. Eu desejo almas para consolá-lo, para aliviar a ira do Divino Pai. Eu desejo, com meu Filho, almas que reparem através de seu sofrimento e sua pobreza pelos pecadores e ingratos.


De modo a que o mundo possa conhecer Sua ira, o Pai Celeste está preparando para infligir um grande castigo em toda a humanidade. Com meu Filho eu tenho interferido tantas vezes para aplacar a ira do Pai. Eu tenho evitado a vinda de calamidades oferecendo a Ele os sofrimentos de meu Filho na Cruz, Seu Precioso Sangue, e almas amadas que O consolem formando uma corte de almas vítimas. Oração, penitência e sacrifícios corajosos podem aliviar a ira do Pai. Eu desejo isto também para a sua comunidade... que ela ame a pobreza, que ela se santifique e reze em reparação pelas ingratidões e ultrajes de tantos homens.


Recitem a oração das Servas da Eucaristia com consciência do seu significado; coloquem-na em prática; ofereçam em reparação (o que quer que Deus envie) pelos pecados. Deixe cada uma esforçar-se, de acordo com sua capacidade e posição, para oferecer a si mesma ao Senhor.
Mesmo em uma instituição secular a oração é necessária. Almas que desejam orar já estão a caminho de serem reunidas. Sem prender-se demasiadamente à forma, sejam fiéis e fervorosas na oração para consolar o Mestre.'


Após um silêncio:
'O que você está pensando em seu coração é verdade? Você está realmente decidida a tornar-se a pedra rejeitada? Minha noviça, você que deseja pertencer sem reserva ao Senhor, a tornar-se a esposa digna do Esposo, faça seus votos sabendo que você deve ser pregada à Cruz com três cravos. Estes três cravos são a pobreza, a castidade, e a obediência. Dos três, a obediência é o fundamento. Em total abandono, deixe-se guiar pelo seu superior. Ele vai saber entendê-la e dirigi-la.'


13 de outubro de 1973:
'Minha querida filha, ouça bem ao que eu tenho a lhe dizer. Você irá informar seu superior.'



Após um curto silêncio:
'Como eu lhe disse, se os homens não se arrependerem e melhorarem, o Pai irá infligir uma terrível punição a toda a humanidade. Será uma punição maior do que o dilúvio, tal como nunca se viu antes. Fogo irá cair do céu e vai eliminar uma grande parte da humanidade, os bons assim como os maus, sem poupar nem sacerdotes nem fiéis. Os sobreviventes irão ver-se tão desolados que irão invejar os mortos. As únicas armas que irão restar para vocês serão o Rosário e o Sinal deixado pelo Meu Filho. Recitem todos os dias as orações do Rosário. Com o Rosário, rezem pelo Papa, os bispos e os sacerdotes.


A obra do maligno vai infiltrar-se até mesmo dentro da Igreja de tal modo que se verão cardeais opondo-se a cardeais, bispos contra bispos. Os sacerdotes que me veneram serão desprezados e combatidos pelos seus confrades... igrejas e altares saqueados; a Igreja ficará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio vai pressionar muitos sacerdotes e almas consagradas a deixarem o serviço do Senhor.


O demônio vai ser especialmente implacável contra as almas consagradas a Deus. O pensamento da perda de tantas almas é a causa de minha tristeza. Se os pecados aumentarem em número e gravidade, não haverá mais perdão para eles.


Com coragem, fale ao seu superior. Ele saberá como encorajar cada uma de vocês a rezar e fazer obras de reparação.


É o Bispo Ito, que dirige a sua comunidade.'



E Ela sorriu e então disse:
'Você ainda tem algo a perguntar? Hoje é a última vez que eu vou falar com você em viva voz. De agora em diante você irá obedecer aquele que foi enviado para você e seu superior.


Reze muito as orações do Rosário. Eu sozinha ainda sou capaz de salvar vocês das calamidades que se aproximam. Aqueles que colocarem sua confiança em mim serão salvos.'




A Igreja aprovou as mensagens e as lacrimações da estátua como sobrenaturais.


Abril de 1984: O Reverendíssimo John Shojiro Ito, Bispo de Niigata, Japão, após anos de extensas investigações, declarou que os eventos de Akita, Japão são de origem sobrenatural, e autorizou para toda a diocese a veneração da Santíssima Mãe de Akita.


Em 22 de abril de 1984, após oito anos de investigações, após consulta com a Santa Sé, as mensagens de Nossa Senhora de Akita foram aprovadas pelo Bispo da diocese.


Na vila japonesa de Akita, uma estátua da Mãe, de acordo com o testemunho de mais de 500 cristãos e não-cristãos, incluindo o prefeito da cidade, budista, exalou sangue, suor e lágrimas.
Uma religiosa, Agnes Katsuko Sasagawa recebeu os estigmas e também recebeu mensagens de Nossa Senhora.


Junho de 1988, Cidade do Vaticano: Joseph Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, proferiu julgamento definitivo sobre os eventos e mensagens de Akita como confiáveis e dignos de fé.
Aparições de Nossa Senhora do Carmo
A Virgem do Santo Escapulário






Os primeiros carmelitas, em fins do século XII depois de Cristo (mais de dois mil anos depois da vida do profeta Elias) decidiram formar uma comunidade no Monte Carmelo. O Monte Carmelo é conhecidíssimo pela sua beleza, o nome significa "jardim". Os primeiros monges eram cavaleiros cruzados, que cansados da violência e injustiça daquelas guerras para conquistar a Terra Santa das mãos dos mouros, ali se refugiaram, sedentos de uma vida mais autenticamente evangélica. Atraídos ao Monte Carmelo, pela fama e tradição do profeta Elias, ali fundaram uma capela e em torno dela construíram seus quartos ou "celas". Isto foi por volta de 1155, dedicaram-se a uma vida de penitência e reparação pelos abusos dos cruzados; exercitavam-se na prática da oração e união com Deus e a trabalhos manuais. Escolheram Elias como Pai Espiritual e exemplo de vida monástica de oração e testemunho Profético em meio a um mundo dominado pelas injustiças.

Dedicaram a capelinha à Virgem Maria e sob sua proteção dedicaram-se à imitação de suas virtudes, procurando levar uma vida fixa em Deus. Chamaram a Maria "Senhora" do lugar, segundo os costumes feudais, e renderam a Ela serviço de dedicada doação dos primeiros carmelitas: Homens simples, irmãos, sem muita instrução. Os peregrinos e cruzados que os visitaram, começaram a chamá-los IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO. Receberam este titulo por causa da capela dedicada a Maria; figura central na vida daqueles monges, que levavam uma vida contemplativa, a serviço do Senhor, a exemplo de Elias.






ORGANIZAÇÃO




Mais ou menos no ano de 1209, os irmãos decidiram formalizar a sua vida, pedindo uma Regra de vida ao bispo Alberto, patriarca de Jerusalém, homem piedoso e conhecido pela sua sabedoria e prudência. Alberto levando em consideração as tradições deste pequeno grupo de monges, escreveu-lhes uma Regra muito simples, que os Carmelitas observam até hoje. Com o tempo, quando já na Europa, viajaram a Roma para apresentar ao papa o pedido de aprovação da nova Ordem. No ano de 1226, o Papa Honório I concedeu a aprovação oficial da Igreja à ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO. É este o titulo com que a ordem se apresenta até os dias de hoje. Com esta aprovação os irmãos viveram a sua vida de oração e trabalho, com o ideal de se unir continuamente ao Senhor, a dia todo e em cada obra, a exemplo de Elias, seu Pai Espiritual, e de sua Mãe e protetora, a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe do Carmelo.

A sua tranqüilidade foi interrompida por ocasião da segunda investida dos mouros, por volta do ano de 1235. Os mouros retornaram a Terra Santa movendo feroz perseguição contra os cristãos. Os carmelitas dividiram-se em dais grupos: um, que Permaneceu no Monte Carmelo; os monges foram massacrados e o mosteiro incendiado; o segundo grupo refugiou-se na Sicília, Creta, Itália e finalmente na Inglaterra, no ano de 1238.







A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA
AYLESFORD – INGLATERRA

Na Inglaterra, os irmãos fundaram um mosteiro em Aylesford, onde procuraram imitar a vida do deserta do Monte Carmelo. È um lugar de beleza natural, próprio para a prática da oração e a vida de reflexão e meditação. Aqui começa uma nova época da vida dos irmãos da Virgem Maria.
Na Inglaterra, eles não foram aceitos pelos demais religiosos e eclesiásticos. Vindos de um deserto da Palestina, com suas tradições e hábitos distintos, as outras os menosprezavam dizendo que a Europa já possuía muitas ordens religiosas e não precisava de mais uma. Era uma situação desesperadora para os frades, corriam outra vez o risco de se extinguir como ordem religiosa: primeiro foram os mouros, agora os religiosos. Mas a que os carmelitas queriam era tão somente viver em paz e continuar a sua vida de oração e trabalho. Lutaram de novo pela sua sobrevivência.

Imitando o exemplo dos primeiros Irmãos, o Prior Geral dos Carmelitas, São Simão Stock, recorreu à oração. S. Simão era um homem considerado por todos os Irmãos como um homem de intensa oração, de entrega total, devoção e amor á Mãe do Carmelo, a Virgem Maria.




Diz a tradição: na noite do dia 16 de julho de 1251, Simão, mergulhado na oração, dirigiu-se a Virgem Maria e pediu-lhe o "privilégio feudal" a proteção da "Senhora" sobre seus vassalos em tempos de perseguição e dificuldades. Pediu-lhe que ajudasse a seus irmãos, porque estes sempre se mantinham fiéis a seu serviço e agora necessitavam de sua ajuda. Neste momento, segundo a tradição, rezou esta famosa oração que até hoje os Carmelitas cantam solenemente nas festas:

"Flor do Carmelo, vide florida.
Esplendor do Céu. Virgem Mãe incomparável.
Doce Mãe, mas sempre Virgem,
Sede propicia aos carmelitas, Ó Estrela do Mar".


Durante esta oração, apareceu-lhe a própria Virgem Maria, rodeada de anjos. Entregou-lhe o Escapulário que tinha em suas mãos e disse.lhe:

"Recebe, meu filho muito amado, este Escapulário de tua Ordem, sinal de meu amor, privilégio para ti e para todos os carmelitas: quem com ele morrer, não se perderá. Eis aqui um sinal da minha aliança, salvação nos perigos, aliança de paz e de amor eterno".


Depois disto, Simão chamou todos os frades e explicou o que havia acontecido. Acrescentaram o Escapulário ao hábito e começaram a cantar esta maravilhosa aventura da Virgem Maria para ajudar os carmelitas. De toda a Inglaterra, o povo dirigia-se aos carmelitas, pedindo o Escapulário, para poder compartilhar deste favor, de Maria e gozar de sua proteção. Terminou a perseguição, dai por diante ninguém mais se atrevia a molestar a tranquilidade da Ordem favorecida pela própria Virgem Maria. Forçosamente tinham que aceitar os Irmãos dela.

Atentas á nova realidade ambiental, os Irmãos de Maria começaram a adaptar-se a cultura européia. Mantiveram sempre as suas tradições de oração e união com Deus, e aceitaram pela primeira vez apostolados ativos. Assumiram paróquias e pregaram o evangelho por toda a parte. Mudaram a capa listada por uma capa inteiramente branca, símbolo do Batismo e da alegria da Ressurreição. E ainda hoje, nas festas, os carmelitas conservam esta capa branca. A fama da ordem cresceu em toda a Europa, cresceu o número de vocações carmelitas e despertou-se o espírito de zelo pela vida religiosa.

Adaptaram o Escapulário grande à uma forma mais pequena para o povo, e muitos começaram a usá-lo, como, sinal de amor a Virgem Maria e símbolo de vida cristã fixa em Deus.




O ESCAPULÁRIO, UM SINAL MARIANO

O escapulário é um sinal aprovado pela igreja e aceito pela Ordem do Carmo como manifestação extrema de amor a Maria, de confiança filial nela e do compromisso de imitar a sua vida. A palavra "escapulário" indica uma vestimenta que os monges usavam sobre o hábito religioso durante o trabalho manual. Com o tempo assumiu um significado simbólico: o de carregar a cruz de cada dia, como os discípulos e seguidores de Jesus. Em algumas Ordens religiosas, como no Carmo, o Escapulário tornou-se um sinal da sua identidade e vida. O escapulário simbolizou o vínculo especial dos carmelitas com Maria a Mãe do Senhor, que exprime a confiança na sua materna proteção e o desejo de imitar a sua vida de doação a Cristo e aos outros. Transformou-se assim num sinal mariano.




O VALOR E O SIGNIFICADO DO ESCAPULÁRIO.

O escapulário funda as suas raízes na tradição da Ordem, que o interpretou como sinal da protecção materna de Maria. Contém em si mesmo, a partir desta experiência plurissecular, um significado espiritual aprovado pela igreja:
representa o compromisso de seguir Jesus como Maria, o modelo perfeito de todos os discípulos de Cristo. Este compromisso tem a sua origem no batismo que nos transforma em filhos de Deus.

Por ele a Virgem Maria nos ensina a:

viver abertos a Deus e à sua vontade, manifestada nos acontecimentos da vida;
escutar a palavra de Deus na Bíblia e na vida, a crer nela e a pôr em prática as suas exigências;
orar em todo momento descobrindo Deus presente em todas as circunstâncias;
viver próximos aos nossos Irmãos na necessidade e a solidarizar-se com eles.
introduz na fraternidade do Carmelo, comunidade de religiosos e religiosas, presentes na igreja há mais de oito séculos, e compromete a viver o ideal desta família religiosa: a amizade íntima com Deus através da oração.
põe-nos diante do exemplo das santas e dos santos com os quais estabeleceu uma relação familiar de Irmãos e irmãs.
Exprime a fé no encontro com Deus na vida eterna pela intercessão de Maria e sua proteção.




NORMAS PRÁTICAS:

O escapulário é imposto só uma vez por um sacerdote ou uma pessoa autorizada.
Pode ser substituído por uma medalha que represente de uma parte a imagem do Sagrado Coração de Jesus e da outra, a Virgem Maria.
O escapulário compromete com uma vida autêntica de cristãos que se conformam às exigências evangélicas, recebem os sacramentos, professam uma especial devoção à Santíssima Virgem, expressa ao menos com a recitação diária de três Ave Marias.




FÓRMULA BREVE PARA IMPOSIÇÃO DO ESCAPULÁRIO

Recebe este escapulário sinal de união especial com Maria, a Mãe de Jesus, a quem te empenharás em imitar. Este escapulário te recorde a tua dignidade de cristão a tua dedicação ao serviço dos outros e à imitação de Maria. Usa como sinal da sua proteção e como sinal da tua pertença à família do Carmelo, disposto a cumprir a vontade de Deus e a empenhar-te no serviço pela construção de um mundo que responda ao seu plano de fraternidade, justiça e paz.




O ESCAPULÁRIO DO CARMO NÃO É:

Um sinal de proteção mágica, um amuleto;
Uma garantia automática de salvação;
Uma dispensa de viver as exigências da vida cristã.

É UM SINAL:
Aprovado pela igreja há sete séculos;
Que representa o compromisso de seguir Jesus como Maria:
abertos a Deus e à sua vontade;
guiados pela fé, pela esperança e pelo amor;
próximos dos necessitados;
orando em todos os momentos e descobrindo Deus presente em todas as circunstâncias;
que introduz na família do Carmelo;
que alimenta a esperança do encontro com Deus na vida eterna pela proteção de Maria e sua intercessão.

Regra de vida – Ordem Terceira do Carmo – Sodalício de Salvador (BA)