23.10.06


Dia desbandado – 20/10/06......................

Dia desses que a gente acha que vai seguir um curso programado e depois desbanda tudo. Não, não foi ruim. Foi bom. Mas desbandado. Não fiz nada do programado. Tá certo que o que é programado carrega consigo o morno, que é chato. Mas a vida é assim mesmo, faz parte daquela concepção do “responsável”, e disso quem quer ser certinho não dá para fugir. Ninguém que preza o bom senso pode fazer estripulias com seu dia-a-dia. Um dia a gente pode, no outro não, depois no outro também não (a rotina é benéfica, embora também morna e chata). , até chegar o dia que a gente desbanda. Desbandar é bom. Só ás vezes não é. Hoje nem sei o que foi, mas foi um desbandado sem sensação. É isso: sem sensação. Desbandado e só. Nem preciso dizer aqui que espero que me compreendam, mas pode apostar que tem gente que se identifica. Sempre tem. Pessoas tem imã, só que espiritual, moral, sentimental, e esse monte de “al” que pode surgir. Eu tenho imã com Clarice Lispector, Santa Teresa d´Ávila (ou de Jesus, viu?), Santa Terezinha do Menino Jesus, São Paulo (o apóstolo que era Saulo...). Pelo-amor-de-Deus, tenho imã, que nada mais é que afinidade, respeito, admiração. Mas não sou nem um tiquinho do que eles foram. Sou humana demais, crédo. E queria tanto não ser. Ás vezes tenho repulsa dessa humanidade, porque quem é humano é do mundo, e o mundo não te oferece coisa boa não. Queria poder afirmar como a Igreja (que amo) que “estou no mundo, mas não sou do mundo”. Ainda sou e estou. Mas não quero. Não quero, Senhor. E eu com essa urgência de vida, quero me livrar disso tudo e não ser daqui. Um dia vou ser de Lá, e aí vou ser feliz. Não que eu não seja, mas penso que ninguém que está do lado de cá seja feliz de todo. A gente tem momentos de felicidade, e já tá bom demais. Porque senão não ia ter sentido a propagando feita do lado de Lá, não acham? Aqui a gente tem que amadurecer para chegar mais amaciado do lado de Lá. Não, não tô falando de morte, afasta de mim esse pensamento negativo! Estou falando de vida, e daquela que eu acredito: em abundância. Então, voltando aos queridos nomes citados acima: amo-os. E amo tanto que nem sei. Amo o Papa João Paulo II (Karol Wojtyla...) e Renato Russo. Tá, eu sei que um não tem nada a ver com o outro, as opções de cada um foram bem diferentes, mas... será mesmo? Sempre penso isso. Não com os dois apenas, em tudo na vida, nas pessoas e suas diferenças que podem não ser tão opostas assim... E se as opções fossem as mesmas? Será que não teriam sido amigos? Será que não teriam afinidades? Ideológicas, de coração, de alma? Será que, e será que, e será que? A gente tem que pensar, porque Deus nos deu a inteligência para colocá-la em uso. Mas hoje em dia isso está tão em desuso, uma pena. Não sou favorável a zilhões de opções que o Renato Russo fez em vida-cá, mesmo. Mas e se tivesse dado nele um estalo diferente, meu Deus? Porque ele era de Deus, sem dúvida. Sentia demais, e quem sente fica mais próximo de Deus (daí ele escrever o que escrevia, e tão bem). Sensibilidade. O “ser sensível”. E isso não tem nada de gay – como tantos imaginam – senão eu também seria, já que convivo com minha sensibilidade a flor da pele sempre. E não o sou. Ser sensível em nada tem a ver com sexualidade. Hetero, bi, homo, trans e sabe se lá mais o que esse povo insiste em inventar para denominar o que na verdade são permissões muito particulares de cada um... Essa necessidade de nomear opções que o ser humano tem, essa necessidade de criar panelas, de separar em grupinhos, de delimitar espaço. De separar, basicamente é isso. Ele, o Renato, se permitia, e também quem se permite chega mais juntinho de Nosso Senhor. Não concordo com todas permissões, e não são todas que nos aproximam de Deus. Hoje as pessoas se permitem tanto o que na verdade deveria ser contido, e até cavucado para que seja desinstalado, curado, superado. Deveriam entregar a Deus como gesto de amor, de renúcia, de fé. Tem permissões que derrotam, que deturpa tudo, como se alí fosse apresentado a pessoa seu final infeliz. O que perturbava o Renato era o ego, penso eu. Porque ego perturba, sabe? A gente que se mete a pensar, fica entojado, porque fica naquela de ter o que dizer, o que fazer, o que mostrar, o que dever, o que cobrar. Imagem, entendem? Ou a zelar ou a escancarar mesmo, aparecidos que somos. E aí está o ego. E é esse cretino que nos prende ao mundo. Coisa feia essa nossa! E de tantas e tantas pessoas. Mas tem gente que já aprendeu a trabalhá-lo, e é nessas que tento me espelhar. Os da vida-cá e os da vida-Lá. Está aí toda a comunhão dos santos no Céu que não me deixam mentir. Sabia que não me conformo de quem não admira os santos? Isso é assunto para outro dia, porque é extenso (eu sou extensa...). Mas já inicio que acho isso coisa de gente que colocou a sua inteligência em desuso, que é limitado. Quer dizer, está, mas não é. Optou, digamos assim. Mas cada um no seu cada um e a gente respeita embora não entenda, e tem que ser assim mesmo. Fico na cola do fundamento em tudo o que acredito, é por isso, acho. Quando me vejo na frente de um desfundamentado, isso me irrita que Deus-me-livre! Olha só como sou limitada, Deus meu?! Me irrito, me irrito e peço perdão. Porque me irrito com tanta freqüência, e peço tanto perdão, que acho que uma hora, Deus só por misericórdia (apenas, porque merecer eu não mereço. Ninguém merece nada. Porque tudo é graça. Nisso eu acredito) vai me agraciar livrando-me dessa inquietação. Falta entendimento, sabedoria. Porque gente sábia é o bicho! É lindo de se ver! É ouro purinho... Aí que entra João Paulo II. Deus meu, que homem! Daqueles que se quer estar agarrado, quer se entrar lá dentro dele e ficar quietinha, saboriando suas atitudes, decisões, inquietações, e seu silêncio. O silêncio de pessoas como Karol deve ser linnnndo... Porque silêncio nem sempre é bom. Mas depende de quem protagoniza é um sonho, de tão virtuoso. Tenho bons silêncios, ouso afirmar. Nessas horas Deus fica mais presente. Mas já tive silêncios de enlouquecer, eu essa pobre pecadora. Tô amando o Bento 16. (dezesseis assim a gente assimila mais rápido. Acho uma besteira números romanos, quer saber? Eles deviam ficar apenas lá na matéria de história, para a gente saber que existiram, mas passaram do tempo de entrar em desuso...) Não, não é por ele ser Papa! (tá, também é por ele ser Papa...) Gosto de seus fundamentos. E consigo ver Cristo ali, agindo. Porque quando não vejo Cristo nas pessoas é um martírio interior! Acho apenas que, tadinho, às vezes tiram umas fotos dele que ele fica bem feinho, que se ele não fosse tão conhecido mundialmente, superficialmente por essas infelizes fotos iam achar ele meio medoinho. Não, ele não é feio, fisicamente. Mas é aquele negócio de expressão. Ele tem momentos fotogênicos infelizes de expressão. Também sofro disso, e é o ó. Fico tão horrível que desacredito. Ainda bem que quem conhece a gente (de verdade, de amor) sabe separar muito bem fotos infelizes, expressões infelizes, do que realmente somos. Bento 16 é bonito, um homem fisicamente bonito. Só tem esse problema de não ser fotogênico, porque de expressão ele não tem tanto. João Paulo não tinha, era uma beleza só! De qualquer jeito aquele homem de Deus era lindo! Até doentinho era um encanto! Queira Deus que ele não seja jamais abafado pela história... Mas Deus é quem decide, olha só minha ousadia!.. Gente, sou tão ousada que é até um disparate às vezes. Acho até bacana a pessoa ser ousada, mas muitas vezes peco pela falta de não saber muito bem conduzir isso na minha vida. O “quando-vejo-já-fiz” me persegue tanto, é não é falta de repudiá-lo não, pode acreditar! Acho que é uma dessas coisas muito particulares em cada ser humano mesmo, coisa de essência. Mas não é porque isso está instalado aqui que não vou passar minha vida tentando expulsá-lo daqui de dentro. Um dia consigo despejá-lo, para ir morar lá na casa do chapéu!